Uma “nova gasolina” está prestes a chegar aos consumidores brasileiros. A partir de agosto, as refinarias nacionais e os combustíveis que chegarão por importação ao Brasil deverão respeitar novos padrões de qualidade da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis). Desde a última segunda-feira (3) começou a valer a resolução 807/20,que estabelece uma nova especificação para a gasolina vendida no país. Ela terá rendimento maior e oferecerá mais eficiência aos carros, o que tem um impacto direto no motor. Mas, afinal, o que muda cientificamente nesta gasolina?…
A “nova gasolina” tem alterações físico-químicas que tendem a deixar o combustível vendido por aqui mais próximo ao que é comercializado na Europa e Estados Unidos, segundo especialistas. Ele tende a ficar mais eficiente principalmente em carros mais modernos.
Foi dado um prazo até outubro para as distribuidoras e até novembro para as revendedoras acabarem com os estoques dos produtos antigos. Essa é mais uma etapa do Programa de Controle de Emissões Veiculares (Proconve), promovido pelo Ibama, que visa reduzir progressivamente oimpacto ambiental de motores a combustão. A maioria do combustível feito no Brasil já segue algumas dessas especificações, mas agora isso será obrigatório e padronizado.
Abaixo, entenda cientificamente as três principais mudanças que sua gasolina sofrerá a partir de agosto:
Octanagem
O índice faz referência ao nível que a gasolina pode resistir à pressão do motor sem sofrer combustão espontânea.
Existem dois tipos:
A MON (número do octano do motor, na tradução literal), que avalia a resistência da gasolina à detonação (combustão da ignição do carro) quando o motor está em plena carga e em alta rotação;
A RON (número do octano de pesquisa), que é a resistência do combustível quando o motor está carregado e em baixa rotação.
Como era?
No Brasil, só era especificado a MON e o IAD (Índice Antidetonante), que era a média entre o MON e o RON. Estima-se que a gasolina comum no Brasil tinha RON de 91 com IAD 87 —na Europa, o RON é em média de 95, podendo chegar a níveis altos como 98.
Como será agora?
A partir de 3 de agosto, a gasolina comum vendida no país deverá ter um valor mínimo de 92 para o RON. Já em janeiro de 2022 o valor mínimo da octanagem RON deverá ser de 93. A Petrobras afirmou a Tilt que seu combustível já terá o valor de 93 para a octanagem RON em agosto.
Por que isso importa?
Essa mudança afetará principalmente os veículos mais modernos, que tinham uma nova construção de motor e sofriam mais com a gasolina antiga. “A característica de RON aparece muito em motores mais modernos. A tecnologia e a eletrônica mais avançadas diminuem o peso do motor mantendo a potência. Eles exigem mais o RON, que não era monitorado no Brasil. Foi feita até uma carta da indústria automotiva para a ANP mudar isso”, explica ao Tilt Rogério Gonçalves, especialista em combustíveis da Petrobras. Carros mais modernos, de alguns anos para cá, passaram a apresentar consumo elevado de gasolina, o que gerou reclamações de consumidores. O RON muito baixo poderia até levar a quebras de motores em casos mais drásticos por gerar combustão espontânea. Com o RON maior, a gasolina brasileira também se aproxima à de países como Estados Unidos e Europa, onde estão os principais centros das montadoras. Como os carros costumam ser pensados e montados nesses locais, eles poderiam chegar ao Brasil com dificuldades de se adaptar ao padrão nacional.
Massa específica
Também conhecida como densidade, a massa específica depende do refino do petróleo e é importante para delimitar a potência da gasolina.
Como era?
O Brasil não determinava parâmetros ou limites. Estima-se que a gasolina comum brasileira variava entre 700 kg/m3 e 740 kg/m3, sendo que a maior parte da gasolina importada figurava na faixa menor.
Como será agora?
A gasolina comum e a premium deverão ter massa específica mínima de 715 kg/m3.
Por que isso importa?
A mudança pode servir para dar mais energia para a gasolina nos carros que circulam por aqui. “Com a mesma quantidade de volume, digamos um litro, quanto menor a massa menos energia eu tenho no combustível. Em outras palavras, quanto menor a massa, maior o consumo”, afirma Everton Lopes, mentor de tecnologia e inovação para a área de Energia a Combustão da SAE (Sociedade de Engenheiros da Mobilidade) Brasil. Essa mudança é um dos fatores que pode fazer a gasolina render mais nos carros. É esperado um rendimento cerca de 5% maior por litro —ao mesmo tempo, o preço também irá aumentar. O estabelecimento de um limite mínimo garante uma quantidade mínima de conteúdo energético na gasolina.
Temperatura de destilação a 50%
É um dos parâmetros utilizados no processo de destilação da gasolina. Chamada de “50% dos evaporados”, é o momento em que tem a evaporação de 50% da massa.
Como era?
Antes não havia limites mínimos próprios para isso. Havia apenas o limite máximo de 120º C da gasolina tipo A e 80º C do tipo C.
Como será agora?
A T50, como é chamado o índice, mínima para a gasolina comum será de 77º C.
Por que isso importa?
Segundo a ANP, esses parâmetros de destilação afetam a potência e o desempenho do motor, além da própria dirigibilidade do carro. Para especialistas, quanto mais fácil você vaporiza, melhor o desempenho do motor em diversos cenários – estabelecer limite da T50 evita frações mais leves do combustível.
Os motores funcionarão de maneira mais próxima do que é especificado pelas fabricantes. A gasolina vendida ao público, quando não segue os mesmos padrões das montadoras nos testes, pode não entregar o rendimento esperado. Com a melhoria do combustível, o veículo irá se comportar de maneira mais homogênea.
Impactos das mudanças
O Brasil tem, segundo dados da ANP, elevado o nível de importação de gasolina —passou de 3,2 milhões de barris em 2010 para 30,3 milhões em 2019. Em 2018, 19% da gasolina comercializada por aqui era importada. Isso gera uma “zona” de padrões que poderia ser prejudicial para carros. A Petrobras diz que a produção da nova gasolina não é um problema, já que as refinarias são bem adaptáveis aos novos padrões. Ao mesmo tempo, já foi anunciado que o combustível ficará mais caro no Brasil por causa disso. “Essa nova formulação da gasolina permite uma redução de 4% a 6% do consumo do combustível nos motores. Esse ganho de rendimento compensa a diferença de preço da gasolina, porque o consumidor vai rodar mais quilômetros por litro. Apesar de esta gasolina ter um custo de produção maior, não é isso que determina o preço final”, aponta a Petrobras em nota, citando também cotação do mercado e outras variáveis como valor do barril do petróleo, frete e câmbio. A gasolina também não irá mudar do dia para a noite a partir de 3 de agosto. Parte das mudanças já está ocorrendo nos últimos meses. Outras particularidades da gasolina nacional não mudarão, como a porcentagem de etanol misturado, que foi mantido em 27% para as gasolinas comum e aditivada e em 25% para a gasolina premium.

Quanto o preço vai aumentar?
A política de preços do Brasil dificulta especular o quão mais caro o combustível pode ficar. Entretanto, Lopes explica como e onde o preço pode subir.
“Uma parcela da gasolina comercializada no Brasil hoje é importada e outra é produzida aqui. Essa gasolina que vem de fora é de menor qualidade, da especificação antiga. Com essa nova legislação, vamos manter o padrão alto da gasolina interna e importar uma melhor. Então sim, vai haver um aumento”, afirma.
Esse valor deve ficar cerca de 3% a 4% maior. Do ponto de vista financeiro, de acordo com o engenheiro, o ganho no consumo acaba empatando com o preço pago pelo combustível. Mas com uma emissão menor de poluentes, a vantagem ecológica é maior.
5 curiosidades sobre a nova gasolina que você vai querer saber
1. Melhor eficiência energética
A nova gasolina tem maior densidade e torna o motor mais eficiente. Mas você conhece esse conceito de eficiência energética? De forma simplificada, a eficiência energética é sinônimo de melhor uso da fonte de energia. É uma relação de causa e efeito: quanto maior o aproveitamento de energia e menor o índice de perdas, maior a eficiência do recurso energético.
Nos veículos, o conceito é o mesmo. O combustível é a fonte de energia que faz o motor funcionar para colocar o carro em movimento. E para um veículo ter uma boa eficiência energética – ou seja, precisar de menos recursos para operar, com menos perdas ou danos – é preciso um bom combustível.
2. Redução de consumo
Ainda falando de eficiência energética, enfatizamos que os motores precisam de um combustível que possa fornecer uma quantidade de energia adequada para seu melhor funcionamento com menos recursos. Quando a qualidade do combustível é melhor, o veículo precisa consumir menos para percorrer a mesma distância. Por isso, na prática, com a nova especificação da gasolina, seu carro vai andar mais, consumindo menos.
3. Maior octanagem
Queremos que o motor de seu carro tenha um bom desempenho nas mais diferentes condições – tanto em um engarrafamento em uma ladeira em pleno verão ou na partida em uma manhã de inverno. Para obter esse resultado, precisamos falar de octanagem, que é o valor que indica a qualidade do combustível em relação à detonação. Quanto maior a octanagem, maior a resistência à detonação.
Os motores com tecnologias mais modernas – e que já estão em uso em uma grande quantidade de veículos – são mais sensíveis a uma metodologia chamada RON (número do octano de pesquisa, da sigla em inglês), que tem um valor mais alto de octanagem.
Elevando o nível de octanagem, estamos garantindo uma combustão adequada, além de melhor funcionamento e maior proteção do motor. Por isso, o novo combustível vai ser bom para o seu veículo tanto no verão quanto no inverno.
4. Maior densidade
A eficiência do motor varia de acordo com a massa específica (ou densidade) do combustível: quanto maior, menor o consumo – além de melhor rendimento para o veículo. Assim, com uma gasolina de maior massa específica, haverá uma maior massa para um mesmo volume de combustível injetado no motor, gerando mais energia na combustão e permitindo que você rode mais quilômetros com o mesmo volume de combustível.
5. Maior vida útil dos motores
O uso do combustível adequado permite melhor aproveitamento e proteção do motor. E uma gasolina de melhor qualidade não só melhora o rendimento dos motores, como também reduz substancialmente a possibilidade de problemas mecânicos dos carros – exigindo menos investimento em manutenção e diminuindo a possibilidade de quebras do motor.
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